segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Xmas it's coming to my house














Foi dia 1 de Dezembro, nesta casa cumpriu-se uma tradição, trazer as decorações de Natal à nossa casa.

A principio tive algum receio, confesso. Mini Lady rufia, mexerica que só ela, corre a casa toda e mexe em tudo o que lhe apetece, só lhe ralho se me desarrumar os livros ou se me atirar tudo o que está nos armários para o chão da cozinha, sou da opinião de que as crianças devem sentir-se livres, que devem sim aprender a não mexer no que não devem, no entanto, há sempre algo que as desperta e nem com ralhetes lá vão. Com a árvore de Natal temia o pior, enfeites estragados, coisinhas verdes pela casa toda, árvore caída no meio do chão, pior, que a árvore lhe caísse em cima. 

Pois bem, nada aconteceu, a mini lady tem medo da árvore, nem lhe chega perto. Posto isto, ainda me dei ao luxo de improvisar uns galhos, apanhados pelas ruas da minha nova morada (benditos vendavais), inspirados nas muitas imagens do Pinterest, vicio gostoso das imagens bonitas e inspiradoras. Bom local para recorrer às ideias de DIY.

Agora com esta prova superada, demos inicio a um ciclo de tradições que tenciono manter, a primeira de todas, fazer a árvore de Natal será sempre dia 1 de Dezembro. A primeira de tantas que tenciono instaurar neste ninho de "passarinhos verdes", para que nos lembremos sempre das coisas boas, para termos porquê fazer algo feliz, algo que se recorde até ao fim dos nossos dias, para que os nossos se lembrem do carinho em cada ritual, em cada tradição que esta casa terá, que a nossa vida dará, que os nossos ideais mostrarão.

Gostaria, gostaria não, quero, quero que se lembrem como eu me lembro, como eu me lembro dos fins de semana no monte, como eu me lembro da apanha da azeitona, como eu me lembro de lavar os pés no alguidar azul, com a água aquecida nos potes de ferro preto à lareira da casa do fogo, como eu me lembro das torradas de fogo, como eu me lembro da excitação de cada matança do porco, como eu me lembro do sal, da laranja e do super pop que envolviam as tripas depois de lavadas na ribeira, da faca que as raspava e do pau colhido das bermas para tirar toda porcaria que la estava (que nojice, que lembrança agradável), quero que caiam na ribeira como eu caía, não por descuido mas porque desejava ardentemente cair e expulsar toda a alegria que sentia, quero que se lembrem como eu me lembro da massa de pão amassada e transportada em panos brancos nas suas bandejas, quero que se lembrem como eu me lembro de tanta coisa que se repetia e que agora se perdeu. 

Não posso voltar atrás e trazer tudo o que eu vivi, toda a felicidade que isso me trouxe, mas posso dar uns pequenos gestos, pequenos rituais, posso imortalizar coisas fáceis, algo possível, algo transmissível, porque apesar de não poder lavar mais tripas, podemos sempre cair na ribeira. 

Sempre,
M






Falta de ti

São horas da madrugada, é tarde para estar aqui, mas só o silêncio me permite o encontro comigo mesma, o silêncio e a solidão. A menina, apesar de pequena, dorme fora, o ainda noivo, trabalha o turno da noite, e eu sinto o espaço só meu, disponível para ouvir a música que me aquece a alma, que enche a casa fria com o som que não o da minha voz.

Hoje estou especialmente melancólica, na verdade é um estado que me atinge há alguns dias. Perguntas porquê? Não sei, amor. Talvez pela música que enche a casa fria, talvez pelos textos lindos que o teu pai escreveu, talvez pelos tempos apressados que vivemos, talvez pela falta de paciência para as lides diárias, talvez pela falta de aconchego dos dias quentes, talvez pela minha ausência no Cais da Ribeira, talvez pela falta de oxigénio limpo, talvez pela falta de bondade alheia, talvez por saudades dos "meus", talvez pela falta de fotografias carinhosas na nossa casa, pela falta da nossa filha neste fim de semana, talvez pelo trabalho que me faz chegar atrasada ao ritual de deitar a nossa pequena,talvez pela falta de tempo, tempo a minha palavra de 2014, talvez pela falta de conhecimento adquirido, pela motivação que teima em não aparecer, talvez, talvez. 

E de repente escrevo, sem a inspiração que tenho sempre querido, mas com a alma que nem sempre encontro, com o espírito cheio de sentimentos, que nem eu, pela falta contínua de inspiração, consigo transmitir, hoje sinto-me melancólica.

Esta noite decidi ficar aqui, escrever, não sei bem o quê, decidi não revoltar a cama fria, decidi não sentir a tua ausência, decidi ficar com as olheiras que as poucas horas de sono me podem trazer. Não te preocupes, sou só eu a querer que me acordes com o teu abraço, que me digas mais uma vez que sou a tua princesa, que me amas, que me digas só mais muitas vezes, uma não me chega, jamais chegará, afinal amar é assim?

Sinto-me aquela adolescente com medo da noite, apetece-me pegar nos phones bandolete da Sony, ajeitá-los ao tamanho da minha cabeça, e adormecer ao som da música, adormecer até que o cd acabe, afinal a melancolia traz recordações, nem boas nem más, traz hábitos levados com o tempo. Aposto que nunca suspeitaste, que a mulher a quem deixas para cumprir o teu dever tem medo da noite, não do escuro, mas da noite, aposto que nunca imaginaste, que a mulher que adora aconchego sente os sonhos passarem a pesadelos quando não estás, hábito terrível este de aconchegar, hábito terrível este de não saber estar só, nem que seja por uma, duas, três, quatro noites.

Não te preocupes, sou só eu a querer que me acordes com o teu abraço, que me ralhes porque me deitei tarde, mas que me abraces, que me beijes e que me digas sempre que me amas.


Sempre,
M