segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Falta de ti

São horas da madrugada, é tarde para estar aqui, mas só o silêncio me permite o encontro comigo mesma, o silêncio e a solidão. A menina, apesar de pequena, dorme fora, o ainda noivo, trabalha o turno da noite, e eu sinto o espaço só meu, disponível para ouvir a música que me aquece a alma, que enche a casa fria com o som que não o da minha voz.

Hoje estou especialmente melancólica, na verdade é um estado que me atinge há alguns dias. Perguntas porquê? Não sei, amor. Talvez pela música que enche a casa fria, talvez pelos textos lindos que o teu pai escreveu, talvez pelos tempos apressados que vivemos, talvez pela falta de paciência para as lides diárias, talvez pela falta de aconchego dos dias quentes, talvez pela minha ausência no Cais da Ribeira, talvez pela falta de oxigénio limpo, talvez pela falta de bondade alheia, talvez por saudades dos "meus", talvez pela falta de fotografias carinhosas na nossa casa, pela falta da nossa filha neste fim de semana, talvez pelo trabalho que me faz chegar atrasada ao ritual de deitar a nossa pequena,talvez pela falta de tempo, tempo a minha palavra de 2014, talvez pela falta de conhecimento adquirido, pela motivação que teima em não aparecer, talvez, talvez. 

E de repente escrevo, sem a inspiração que tenho sempre querido, mas com a alma que nem sempre encontro, com o espírito cheio de sentimentos, que nem eu, pela falta contínua de inspiração, consigo transmitir, hoje sinto-me melancólica.

Esta noite decidi ficar aqui, escrever, não sei bem o quê, decidi não revoltar a cama fria, decidi não sentir a tua ausência, decidi ficar com as olheiras que as poucas horas de sono me podem trazer. Não te preocupes, sou só eu a querer que me acordes com o teu abraço, que me digas mais uma vez que sou a tua princesa, que me amas, que me digas só mais muitas vezes, uma não me chega, jamais chegará, afinal amar é assim?

Sinto-me aquela adolescente com medo da noite, apetece-me pegar nos phones bandolete da Sony, ajeitá-los ao tamanho da minha cabeça, e adormecer ao som da música, adormecer até que o cd acabe, afinal a melancolia traz recordações, nem boas nem más, traz hábitos levados com o tempo. Aposto que nunca suspeitaste, que a mulher a quem deixas para cumprir o teu dever tem medo da noite, não do escuro, mas da noite, aposto que nunca imaginaste, que a mulher que adora aconchego sente os sonhos passarem a pesadelos quando não estás, hábito terrível este de aconchegar, hábito terrível este de não saber estar só, nem que seja por uma, duas, três, quatro noites.

Não te preocupes, sou só eu a querer que me acordes com o teu abraço, que me ralhes porque me deitei tarde, mas que me abraces, que me beijes e que me digas sempre que me amas.


Sempre,
M

Sem comentários:

Enviar um comentário